Por Renan Cola*
Na mitologia grega, Afrodite
sofrera de um sórdido destino. Seu nascimento, diferentemente do que regem as
leis da procriação, deu-se de forma pouco usual: Cronos, Deus do Tempo, decepou
os testículos de seu pai, Urano, movido pelo medo de ser expulso do Olimpo. Do
esperma derramado ao mar, constituiu-se a personificação do amor, beleza e
sensualidade.
Criada mediante apenas à
presença varonil, a deusa conheceu do contato prematuro com as intempéries da
jornada mitológica que, para alcançar seus objetivos, fazia-se necessário hipermasculinizar-se.
Dos jogos de sedução ao apelo exacerbado às aparências, a divindade persistia
em procurar a razão da sua estertorante incompletude: o equilíbrio interior.
E o Dia dos Namorados? O que
tem a ver com o mito de Afrodite? De acordo com a psiquiatra especialista em
linguagem arquetípica da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, Jean
Shinoda Bolen, existe uma disfunção que faz com que os indivíduos “inflem” o
outro lado da moeda, fazendo com que as características inerentes ao sexo
oposto sejam acentuadas.
Intitulado “Complexo de
Afrodite”, esta patologia faz com que ambos os parceiros invistam energia psíquica
na tentativa de manter o cônjuge em um jogo patológico intermitente de domínio
e fusão erótica. Em outras palavras, o homem passa a adotar uma postura mais apática
e de subserviência, à medida que a mulher se torna mais agressiva e
controladora.
Na percepção da especialista,
o aparelho mental de cada lado passa a operar de acordo com a seguinte
sentença: “preciso acentuar o lado oposto que falta dentro de mim para que,
desta maneira, eu possa constituir o personagem que falta no interior do outro”.
Assim, homens-femininos completam mulheres-masculinas, engendrando-se,
fantasiosamente, entre si.
O mercado, que não é bobo nem
nada, também pode se aproveitar desta inclinação delirante dos casais afeiçoados
ofertando produtos que se moldam às faltas primitivas que cada um dos sexos tende
a procurar em suas caras-metades. Para isso, basta que adeque as estratégias de
marketing às imagens arquetípicas correspondentes ao desejo inconsciente das
partes.
E como se faz isso? O primeiro
passo consiste em delinear o posicionamento de comunicação das campanhas
publicitárias. No próximo dia 12 de junho, por que não se utilizar dos motes
“ele/ela, do seu jeito”? Ao aludir ao universo do imaginário aspirado, os
serviços ofertados acertarão em cheio na constituição fetichista da psique dos
casais, maximizando as vendas.
Em relação ao apelo imagético
dos anúncios, esqueça os modelos de terno e gravata, assim como mulheres-protótipos
das propagandas de margarina. Quer que ela compre produtos para ele? Faça com
que ele seja retratado como um homem do lar, no estilo Rodrigo Hilbert, apresentador
de um conhecido programa de culinária gourmet exibido na TV a cabo.
Precisa que ele consuma
produtos para presenteá-la? Abra mão do clichê comunicacional constituído pelos
signos triviais da data como bombons, flores e perfumes importados. Substitua-os
por elementos de representação fálica que demonstrem empoderamento,
superioridade e firmeza como: celulares, tablets, batons, bolsas, sapatos e
joias.
E na hora de
estar frente a frente com o cliente? Evite termos comerciais da Grécia Antiga como
“ele gostará muito do presente” ou “mulher sempre gosta deste produto”,
substituindo-os pelas correspondências simbólicas veneradas pelos compradores:
“neste traje, o seu namorado ficará um gentleman”
e “utilizando este acessório, ela ficará ainda mais irresistível”.
Ainda, apostar
na experiência lasciva do ponto de venda por meio de ações que ajudem o shopper a visualizar como o outro lado
da laranja ficaria utilizando o “Elixir dos Deuses” proposto pode ser a flecha
que unirá os pombinhos decaídos em paixonite. Afinal, neste limbo dos
desequilibrados, nada melhor do que se olhar no “Espelho de Afrodite”.
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