Casos de crianças com convulsões têm chamado atenção para o tratamento com canabidiol e para a liberação da droga no Brasil
Mas o pediatra Paulo Taufi Maluf Júnior alerta que as pesquisas com a substância derivada da maconha estão apenas no começo
Casos de crianças que sofrem com mais de 20 convulsões e crises de epilepsia diárias em consequência de síndromes raras e a proximidade das eleições levantam mais uma vez a questão da legalização da maconha no Brasil. Os defensores da descriminalização para o uso medicinal da droga alegam que a prática é adotada em muitos países, o que não é verdade.
Nos Estados Unidos, o único uso para o qual o canabidiol (substância encontrada na maconha e também conhecida como CBD) está aprovado é na desnutrição por falta de apetite (caquexia), em pacientes com câncer e principalmente em portadores do vírus da AIDS.
O Prof. Dr. Paulo Taufi Maluf Júnior (CRM/SP 21.769), do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas e do Hospital Sírio-Libanês, avalia que, para as demais indicações, como a de crianças com histórico de convulsões ou epilepsia, o que se tem é uma pastinha ou massinha, feita da folha da maconha que contêm THC (substância que dá o efeito psicotrópico). No entanto, esse produto, vendido nos Estados Unidos sem receita, como suplemento alimentar, ainda não foi estudado a fundo.
“Antes de ser instituído como medicação e distribuído comercialmente, o canabidiol precisa ser submetido aos trâmites pelos quais são testadas as suas propriedades, como absorção, grau de acúmulo em tecidos orgânicos, modo de excreção, dosagem segura, efeitos colaterais e, principalmente, comparada com as medicações já existentes para os fins a que se propõe”, esclarece o pediatra.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a importação de canabidiol para 57 famílias brasileiras, até agora. Mas o médico explica que é necessário comprovar a eficácia do uso da maconha medicinal em casos de:
1. Vômitos causados por quimioterapia: a maconha já mostrou que pode ser benéfica nesses casos. Porém, é necessário que ela se mostre, em estudos, pelo menos equivalente em eficácia e toxicidade às drogas já existentes e altamente eficazes, a ponto de tornar dispensável novas pesquisas com a maconha.
2. Dor. Os canabinóides têm efeito antiinflamatório e merecem ser estudados, mas cabe aqui a mesma ressalva apontada acima. Em algumas experiências o efeito foi antagônico no primeiro momento, ou seja, houve piora inicial da dor, antes de ocorrer melhora após o emprego da maconha. Nas dores neuropáticas e nos espasmos musculares observados em pacientes com esclerose múltipla, o uso de canabinóides tem mostrado resultados interessantes que levaram à comercialização do produto.
3. Epilepsia. Há relatos de epilepsias resistentes a tratamentos convencionais e que responderam ao uso de maconha. Mas é preciso conhecer melhor a dose empregada, o modo de administração e as especificações já relatadas. Além disso, embora a maconha tenha revertido epilepsias em animais de laboratório, em outros provocou convulsões e este fato precisa ser esclarecido.
4. Doenças mentais. Há indicações de que a maconha pode ser útil em casos de ansiedade ou de inadaptação social. Mas sabe-se também que a maconha pode deflagrar manias, depressão e psicoses.
“Antes de dizer que, se liberada, a maconha servirá como medicação, é necessário estudá-la a fundo já que as pesquisas estão apenas no início e seus benefícios terapêuticos não se respaldam, por enquanto, em evidências científicas”, alerta o pediatra Paulo Maluf.
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