Então, o que eu queria te contar é algo que, na verdade, talvez não precise ser contado, mas se eu não contar, pode parecer que existe um silêncio que fala mais do que eu, e se eu falo, aí talvez eu diga demais, ou de menos, porque a medida certa do que não existe é sempre incerta, e a incerteza, de certo modo, já é uma forma de certeza que não se afirma mas também não se nega.
E se a gente parar para pensar, não exatamente pensar, mas quase pensar, ou pelo menos fingir que pensa, pode ser que a ideia de começo nem seja começo de fato, mas sim a continuação de algo que nunca começou, embora também não tenha terminado, porque se tivesse terminado, eu não estaria aqui tentando explicar o que não precisa de explicação. Mas, ao mesmo tempo, não explicar é quase como esconder aquilo que nunca apareceu, e esconder o que nunca apareceu é o mesmo que mostrar o invisível, o que já não faz sentido nenhum, mas ainda assim soa como se tivesse.
É como se houvesse um fio solto, mas esse fio não leva a lugar nenhum, porque ele não está preso a nada, mas, ao mesmo tempo, se ele não está preso, como é que pode estar solto? Talvez não seja nem solto nem preso, apenas esteja, ou talvez nem esteja, apenas pareça estar, e nesse parecer já haja mais verdade do que em qualquer estar.
E aí você pode até me perguntar: “mas afinal, qual é a história?” — e eu te diria que não é uma história, mas também não é a ausência de história, porque se fosse ausência, não teria o que dizer, e se eu não tivesse o que dizer, não estaria aqui dizendo o que não se diz.
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