O excesso de peso não é apenas um transtorno estético e a obesidade pode afetar todos os órgãos do corpo, provocando consequências físicas e emocionais
Já sabemos que a obesidade infantil expõe as crianças a um maior risco de pressão alta, triglicérides e colesterol elevados, bem como diabetes e problemas cardiovasculares. Mas um novo estudo descobriu que a obesidade também pode colocá-las em risco elevado de desenvolver 20 outros problemas de saúde, incluindo déficit de atenção (TDAH), hiperatividade, alergias e infecções de ouvido.
“Enquanto um grande número de pesquisas sobre obesidade infantil tem destacado os problemas de saúde que surgem na idade adulta, este estudo da UCLA apresenta um novo enfoque sobre as consequências imediatas da condição e mostra que as crianças obesas estão em risco muito maior do que supúnhamos”, afirma o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
No novo estudo, publicado na revista acadêmica Pediatrics, os pesquisadores analisaram dados de mais de 43.000 crianças, com idades entre 10-17 anos, coletados em entrevistas de 30 minutos feitas por telefone como parte da Pesquisa Nacional de Saúde da Criança (2007). Das crianças participantes do estudo, 15% apresentavam sobrepeso e 16% eram obesas.
Ao analisar os dados coletados, os pesquisadores descobriram ligações entre a obesidade e diversos indicadores de saúde geral, incluindo mais deficiências; uma maior tendência para problemas emocionais e comportamentais; maiores taxas de repetência, alta abstenção na escola e outros problemas escolares; TDAH; transtornos de conduta, depressão, dificuldades de aprendizagem; atrasos de desenvolvimento; problemas ósseos, articulares e musculares; asma; alergias; dores de cabeça e infecções de ouvido.
Os resultados revelaram que quanto mais obesa a criança, maior o seu risco de apresentar problemas de saúde. Mesmo quando são comparadas crianças obesas com crianças com sobrepeso, as crianças obesas são mais propensas a apresentar um quadro de saúde pior e mais comorbidades. No geral, as crianças obesas são quase duas vezes mais propensas a ter problemas de saúde múltiplos.
Segundo os pesquisadores da UCLA, as mudanças em curso nas condições crônicas da infância estão relacionadas com décadas de mudanças nos ambientes físico e social em que vivem as crianças, que modificaram a forma de brincar e aprender. Os estudiosos sugerem que os esforços para prevenção da obesidade devem levar em conta essas influências sociais e ambientais.
Obesidade e suas consequências
Enquanto a nova pesquisa apoia estudos menores que relacionam a obesidade infantil a outros problemas de saúde, ela não estabelece causalidade entre uma coisa e outra: a obesidade é o fator que contribui para o surgimento destes problemas ou são estas condições que predispõem as crianças à obesidade?
Segundo Neal Halfon, um dos autores do estudo, "podemos presumir que algumas das associações provavelmente têm relações temporais ou causais, mas nossos dados não podem fazer uma afirmação definitiva a esse respeito".
Alguns dos problemas de saúde relatados pelos pais aos pesquisadores podem estar diretamente relacionados à obesidade, tais como diabetes e dores de cabeça frequentes e graves, doenças que melhoraram o seu prognóstico quando os pacientes perdem peso. Para outros problemas, como a depressão, a causalidade poderia funcionar nos dois sentidos: a depressão pode influenciar os padrões alimentares, mas o ganho de peso também pode levar à depressão.
Diante de tantas informações trazidas pelo estudo, “a mensagem para os pais e profissionais de saúde é clara: crianças obesas têm um risco maior de muitos problemas de saúde, por isto a doença precisa ser tratada sempre, por mais difícil ou desafiador que isto possa parecer. O excesso de peso não é apenas um transtorno estético. A obesidade afeta todos os órgãos do corpo, provocando consequências físicas e emocionais. Estamos diante de um grave problema social e de saúde", defende o pediatra.
CONTATO:
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