Para tentar responder essa questão e
propor alternativas para o desenvolvimento do País, a ABIMAQ realizou o 1º Congresso Brasileiro da Indústria de
Máquinas e Equipamentos, na sede da entidade, em São Paulo, no dia 16 de
setembro
Com um cenário projetando uma queda do
PIB da ordem de 3%, há expectativas que a indústria por meio do aumento de
exportações de manufaturados e da recuperação de parte do market share no
mercado interno possa cumprir esse papel.
Em crises anteriores, a história
mostra que a indústria é a saída , uma vez que desde que surgiu na Inglaterra,
tem sido fator decisivo nas sociedades modernas, gerando emprego, inovação e
bem-estar social.
Com tema desafiador e
multidisciplinar, a ideia da entidade ao realizar o Congresso foi promover o debate e buscar soluções para
suas associadas em particular e para a indústria de transformação em geral,
tentando contribuir para o crescimento.
O
PROBLEMA
“Os caminhos da reindustrialização e
do Brasil potência estão ao nosso alcance. Temos uma série de grandes desafios
que são motivo da nossa jornada de trabalho hoje. Vamos fazer um brainstorming
promovendo um debate com alguns dos temas vitais para podermos trilhar este
caminho. Do contrário, vamos chegar a um ponto de não retorno e trilharemos o
triste caminho de voltar a ser um país colônia”. Com essas palavras, o
presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, Carlos Pastoriza, abriu o 1º
Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos - “O Mercado em
Debate”.
Com a participação de autoridades
governamentais, lideranças empresariais e setoriais, o evento discutiu temas
como:
- A Reindustrialização do Brasil;
- A Indústria de Bens de Capital como
Vetor de Crescimento;
- A Inserção do Brasil nas Cadeias
Globais de Valor;
- Desenvolvimento e Política
Industrial;
- Inovação: O Papel Estratégico do
Estado;
- Financiamento: O Papel do Estado x
Iniciativa Privada;
- Produtividade e Competitividade.
Em seu pronunciamento, Pastoriza
afirmou que, apesar do momento difícil em que passa a economia e a indústria, o
Brasil faz parte de um grupo seleto de países que tem uma indústria de
transformação, produz e exporta bens de capital. “Porém, essa mesma indústria
sofre com uma taxa de juros ‘pornográfica’ e um sistema tributário irracional,
que beneficia a importação, o que tem provocado a desindustrialização”,
explicou.
Pastoriza destacou que esse processo
desastroso prejudicou o tecido industrial e fez com que o PIB e os empregos
qualificados caíssem brutalmente. “Há três anos, o setor caiu 30%, o que
significa que o país não está investindo e isso é grave”, afirmou o presidente.
“Se quisermos ter soberania tecnológica, valor agregado e crescimento do PIB de
modo sustentável, depende somente de nós”.
Palestra
– A Reindustrialização do Brasil
ALDO REBELO, Ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI)
“Temos que destacar a relevância da inovação e da
reindustrialização para o país. A indústria é importante para a moderna
sociedade em todo o mundo, pois cria as sociedades urbanas, a moderna classe
média, a vida democrática e institucional e a sensação de bem-estar material e
espiritual. O desenvolvimento industrial
determinou o processo ocorrido em países como Inglaterra, China e Estados
Unidos, cujos Estados são as principais alavancas da pesquisa e inovação. O
Brasil procura dispor de instrumentos para apoiar esses fatores, como a criação
do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), os
fundos setoriais, os institutos, como o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), e as linhas de financiamento oferecidas
pelo BNDES e Banco do Brasil. Com relação
ao ajuste fiscal, é um mecanismo
temporário para corrigir deformidades das atividades e de passagens
incontornáveis. Em compensação, o governo tem tomado medidas para a retomada da
economia, como a discussão da revalorização da agenda de ciência, tecnologia e
inovação; reconstituição do orçamento do ministério, projeto destinando 25% do
Fundo Social do Pré-Sal para ciência, pesquisa e inovação; e recuperação do
Fundo do Petróleo como devolução ao sistema de ciência e pesquisa”.
Painéis
Durante o congresso, quatro painéis
foram realizados, contando com a mediação do jornalista Augusto Nunes,
colunista da Veja e apresentador do
programa Roda Viva da TV Cultura.
Painel
I – A Indústria de Bens de Capital como Vetor do Crescimento
A necessidade de um programa de
reindustrialização e a modernização do parque industrial brasileiro, o aumento
de exportações de manufaturados visando à recuperação de parte do market share
no mercado interno e os instrumentos para recuperação do mercado externo foram
destaques do painel.
Amir
Khair
Engenheiro e mestre em Finanças
Públicas
“A questão central que deveria ser
discutida são os juros, que corresponderam a 90% do déficit fiscal do Brasil no
último ano. Aumentar imposto, no conjunto, não leva a nada. Não precisa ser
especialista para saber que da inflação brasileira medida pelo IPCA, 80% dela
não passa pela porta do Banco Central. O BC, com os 20%, aplica uma taxa de
juros alta, fora da realidade internacional e com isso, atrai dólar
especulativo e o câmbio fica fora de lugar. Quando o câmbio e os tributos são
distorcidos, não há a possibilidade de obter inovação, produtividade e
competitividade. Deixamos de aproveitar o extraordinário potencial que o Brasil
tem, tanto com relação à agricultura, pecuária, diversificação e indústria,
quanto ao consumo, que é o carro chefe do crescimento econômico”.
Carlos
Augusto Gadelha
Secretário do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
“O sucesso da indústria é o nosso
sucesso. O fracasso da indústria é o nosso fracasso. Estamos juntos para
construir um horizonte de desenvolvimento, já que o primeiro setor que sofre
com as expectativas em baixa é o setor de bens de capital.Precisamos centralizar a indústria na estratégia
nacional de desenvolvimento. Colocar uma pauta de investimentos e a pauta de
exportação ser vista nesse contexto como primeiro disparador da geração de
demanda efetiva para reanimar as expectativas é absolutamente central. Temos
que construir juntos um programa de modernização do parque fabril brasileiro e
de forte estímulo à produtividade da nossa indústria de bens de capital. É sair
para frente e não recuar. Ainda dá para reagir e nós vamos reagir”.
Paulo
Rabello de Castro
Economista
“Na verdade, o câmbio isoladamente não
colocará a taxa de juros no lugar correto e nem o sistema tributário: Não há
reindustrialização alguma, mas, sim, desindustrialização acelerada. O país não
tem plano, não consegue fazer um orçamento, possui uma imensa conta de juros,
para a qual contribuiu com uma composição de dívida completamente equivocada.
Precisamos agir junto às bancadas, ter plano, orçamento, senso, compromisso e
um pingo de ética e honestidade para a administração deste país. Precisamos
reagir antes que nosso coração pare de funcionar. E nesse aspecto devo chamar a
atenção para a atuação da ABIMAQ na formação do pensamento nacional e na
opinião empresarial e política.Sofremos uma depressão profunda e estamos
necessitados de entidades como a ABIMAQ, que representem a possibilidade de ressurreição deste país”.
Paulo
Stark
Presidente da Siemens
“A indústria acredita e conta com boas
pessoas capazes de salvar o Brasil . Quando analisamos a evolução do câmbio
Dólar-Real vemos que a correlação do câmbio com a exportação de bens de capital
não é tão direta e rápida, como ocorreu anteriormente, já que as condições de
controle são diferentes. Nos últimos 12 anos, o Brasil cresceu pouquíssimo em
produtividade, porque o nosso parque
fabril tem 17 anos de idade, contra parques industriais muito mais modernos de
nossos competidores. De outro lado, a
Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no Brasil, nos anos de 2003 a 2010, teve
uma roda de crescimento que representou o mercado interno das indústrias, que
está deixando de existir. Se não atuarmos na estabilização de um mercado
interno e na criação de condições para a exportação e para o investimento na
modernização das nossas indústrias, não será possível recuperar o parque
industrial brasileiro”.
Painel
II – A Inserção do Brasil nas Cadeias Globais de Valor
Há um consenso de que o aumento da
integração da economia brasileira nos fluxos internacionais de comércio seria
benéfica ao Brasil. Mas, como realizar tal inserção e colocar as empresas
brasileiras em posição de competir como suppliers e end producers de bens de
capital?
Abrão
Miguel Árabe Neto
Secretário substituto de Comércio
Exterior do MDIC
“A discussão com o setor privado é a
melhor forma para encontrar os caminhos para enfrentar os desafios. O Brasil é
a sétima economia do mundo, mas é o 25º exportador mundial de bens, com uma
participação de aproximadamente 1,2% de exportações, ou seja, o tamanho das
nossas exportações não corresponde à real dimensão da economia brasileira. Além
disso, temos uma participação de valor adicionado estrangeiro que é inferior
aos demais players internacionais. Esses dados mostram que há um espaço enorme
para o crescimento do comércio exterior brasileiro e maior inserção do Brasil
nas cadeias de valor”.
Vera
Thorstensen
Professora e pesquisadora da Escola de
Economia de São Paulo da FGV
“Não adianta pensar em cadeia se o
país está completamente isolado dos acordos preferenciais do mundo. As transnacionais
são as grandes responsáveis pela cadeia e o Brasil está fora dessas cadeias,
que são as grandes molas de comércio internacional. Antes de se tratar de
cadeias, é necessário pensar no modo como se deve montar um país preparado para
trabalhar nas cadeias. Não adianta transformar a indústria em importadora. É o
câmbio, que dificulta o estabelecimento de acordos. Só podemos pensar em cadeia
quando conseguirmos baixar a estrutura tarifária absolutamente perversa. Nós
queremos participar de acordos e cadeias e ter condições para fazer isso. É a
abertura que vai fazer o governo se mexer com a pressão de vocês”.
Décio
da Silva
Presidente do Conselho de
Administração da WEG
“Cerca de um ano atrás, o governo
informou que a indústria era prioritária e que desoneraria o setor, mas voltou
a onerá-lo, prejudicando o empresário. Defendo a adoção de um câmbio justo,
modernização do parque industrial e implantação de novos projetos voltados à
eficiência energética. A WEG criou sua própria cadeia de valor em três fases:
exportação, criando a sua rede de distribuidores; abertura de filiais,
cumprindo o processo de internacionalização; e montagem das fábricas, criando
produção. Precisamos conhecer os fornecedores e os mercados. Nossos insumos,
equipamentos e pessoas têm que estar internacionalizados para usarmos a cadeia
de valor de uma maneira mais igualitária. O Brasil precisa decidir que país
quer ser. A indústria de fazer indústria é muito relevante até para a soberania
do país”.
José
Augusto de Castro
Presidente da Associação de Comércio
Exterior do Brasil (AEB)
“Como vamos fazer uma integração entre
cadeias globais de valor se compramos de longe e vendemos para perto? O país
importa 85% de produtos manufaturados basicamente da China, Estados Unidos e
União Europeia. Com relação às exportações, o Brasil vende 36% para a América
do Sul e África e, para o restante do mundo, praticamente nada. Não existe uma
política de integração de comércio exterior e ressalto a criação do Regime
Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras
(REINTEGRA) e a recente diminuição deste benefício. Como teremos uma integração
intercontinental se não temos acordo? Temos que definir se queremos ser
efetivamente um país exportador de manufaturados ou se nós sonhamos acordados.
O mundo está em processo de mudança e o Brasil não está adotando a mesma
postura. As cadeias globais de valor são fundamentais, mas elas precisam
existir”.
Painel
III – Inovação: O Papel Estratégico do Estado
Apesar dos esforços feitos pelo
Governo, por que o país não está melhorando a percepção da inovação pelos
índices internacionais? Mudança cultural, ambiente econômico favorável,
instrumentos de apoio, parcerias com centros de P&D e visão de futuro foram
discutidos neste painel.
Luiz
Fernandes
Presidente da Financiadora de Estudos
e Projetos (FINEP)
“O papel do Estado na inovação engloba
três pilares: criar ambiente propício à inovação empresarial; compartilhar
risco da inovação com empresas; e estruturar cadeias de inovação com instrumentos
adequados. A subvenção econômica é um dos instrumentos mais nobres de apoio à
inovação empresarial porque materializa monetariamente o compartilhamento do
risco da empresa com o poder público. A construção que estamos fazendo para
2016 é dobrar os recursos de subvenção disponíveis. O Inova Empresa estruturou
os editais mais recentes e organizou por setores a demanda do apoio à inovação,
aumentando a qualidade do apoio público do financiamento. Precisamos retomar a discussão sobre a ampliação das áreas
de atendimento Inova Empresa, não atendidas antes, com um edital específico
para bens de capital. Temos que pensar em soluções e iniciativas conjuntas.
Acredito que estamos no mesmo lado”.
Maria
Luisa Leal
Diretora de Desenvolvimento
Tecnológico e de Inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI)
“Precisamos entender o papel do Estado
e do setor privado, discutir e fortalecer algumas questões de contribuição e de
construção do futuro, identificar tecnologias e trabalhar para fomentar a
indústria. Um panorama histórico da indústria brasileira revela quedas
significativas em tempos de crise e de juros elevados , enquanto países como os
Estados Unidos e a Alemanha estão avançando há anos em estratégias para a
indústria. Agora é que o Brasil está
discutindo as bases para o avanço da indústria. A questão é que para
estar em um conceito de indústria 4.0, integrar com o mercado, fornecedores e
análise de banco de dados, é necessária uma infraestrutura para isso. Não se
avança na indústria do futuro sem integração entre o setor privado e o governo.
Um dos papeis do Estado em momento de crise é estruturar bases de inteligência
para prospecção tecnológica e, para que possamos retornar o investimento e
estar preparados para deslanchar no desenvolvimento industrial que tanto
precisamos”.
Rodrigo
da Rocha Loures
Presidente do Conselho de
Administração da Nutrimental
“Historicamente, há exemplo, em todos
os países bem sucedidos, que o Estado contribui no papel estratégico,
proporcionando um ambiente propício ao investimento. No caso específico do
Brasil, estamos nos atrasando. O Brasil tem gente capacitada, bons acadêmicos,
bons gestores públicos. Agora, quando nos colocamos em jogo, tudo funciona mal.
O setor público, as políticas públicas não são eficazes, nossas instituições
são disfuncionais. O investimento não é propício para o empreendedor e perdemos
posições no processo competitivo.Temos que começar a mudar de concepção nesse
paradigma e ter consciência de que temos que trabalhar bem a macroeconomia e
ter condições de competitividade em nível de câmbio. Porque vivemos em uma
economia de mercado e quem entende disso são os empreendedores. Temos que ser
os protagonistas deste processo. Esta é a grande mudança que tem que acontecer.
É a forma como se faz planejamento e se
organizam as instituições. São procedimentos efetivos, de avaliação de
políticas públicas. Existe carência na avaliação de todos os processos. Quando
todos se interessarem, pensaremos juntamente: como nós vamos reinventar o Brasil?”
Gilberto
Poleto
Empresário e proprietário da Bralyx
“As empresas precisam sobreviver.
Precisam se abrir para a exportação e chegar a outros países. Mas sem inovação,
isso não é possível. E para inovar, é preciso financiamento a longo prazo. Nos
caminhos trilhados pela Bralyx a inovação esteve sempre presente em todos os
processos de seu crescimento. A empresa partiu da percepção da necessidade de
uma máquina de fabricar salgados. A Bralyx importou da Itália uma máquina que
fazia algo parecido, e a adaptou para a produção de coxinhas. Dentro dessa
linha nós buscamos a primeira inovação, identificamos que havia um grande
mercado no Brasil de pequenas empresas querendo um produto que coubesse na sua
cozinha. Então, criamos uma máquina de mesa, que hoje é padrão mundial e a
trouxemos para o mercado brasileiro, fazendo coxinhas e pão de queijo. Além
disso, investimos em produtos para atender o público internacional e começamos
a exportar. Cada produto inédito exigiu uma inovação. Com isso, conseguimos estar
presentes em cinquenta países do mundo. A terceira inovação ficou por conta das
certificações, sendo essencial para o sucesso identificar as necessidades do
mercado e desenvolver novas ideias para atendê-las”.
Painel
IV – Financiamento: O Papel do Estado X Iniciativa Privada
Independente da forte atuação do
BNDES, a economia do país apresenta taxas de investimento muito abaixo do
ideal. O painel discutiu a necessidade de um sistema de financiamento de longo
termo, com prazos e custos compatíveis, capazes de recuperar a vitalidade do
setor e tornar a indústria internacionalmente competitiva.
Milton
Luiz de Melo Santos
Diretor-presidente da Desenvolve SP
“Um quarto dos recursos alocados é
para produção de longo prazo. Nós não temos aqui uma proporção de recursos que
seja adequada para o financiamento produtivo. Enquanto tivermos um sistema em
que a predominância da taxa de juros é indicativa para o agente econômico
aplicar o seu recurso, dificilmente teremos um financiamento de longo prazo. É
preciso, de um lado, que a taxa de juros caia substancialmente. De outro lado,
é necessário ter um sistema tributário mais apropriado”.
Maurício
Borges Lemos
Diretor do BNDES
“Além de falar sobre processo de
financiamento feito pelo banco, bem como o fluxo de operações das linhas de
financiamento, como o FINAME, gostaríamos de explicar o crédito direcionado e
falar sobre o programa Refin, que beneficia microempresas de transporte. O
Tesouro Nacional está na iminência de soltar uma carta para o Refin não
equalizado, que vai valer para todo o sistema de bens de capital, caminhões,
PMGs empresas. Mas gostaria de questionar sobre a crise política da década de
30, período em que o PIB brasileiro cresceu 50%. Como o Brasil cresceu 50% em
um período tão difícil? Paradoxalmente, o país não podia importar nada na
época, e começou a criar a sua própria indústria fazendo vários acordos com outros países. Lembrando um pouco uma
análise histórica da condição econômica e fiscal do Brasil podemos pensar nas
saídas que ao país deve adotar: Nós temos muita ociosidade em muitos setores e
lugares, mas precisamos ter estratégias, criar agendas, estabelecer pactos e
negócios prioritários, e tornar o país competitivo”.
Luiz
Aubert Neto
Vice-presidente da ABIMAQ
“Se não existisse o BNDES, nós hoje
não estaríamos aqui. Precisamos lembrar aqui a importância fundamental do BNDES
para as empresas brasileiras, sendo que uma das empresas que temos mais orgulho é a Embraer, um dos exemplos de
sucesso atribuído aos recursos disponibilizados pelo banco.
Não podemos esquecer que o Brasil tem
a mais alta taxa de juros do mundo e que isso é um câncer para o país: Por dia, o governo está pagando
R$ 1,2 bilhões de juros. O volume brasileiro de pagamento de juros é um absurdo.
Nós todos aqui pagaremos por meio de linhas de capital de giro, cheque
especial, cartão de crédito, R$ 600 bilhões de juros por ano, totalizando R$ 1
trilhão de reais. Quem tiver a curiosidade de entrar no site do Banco Central
vai verificar que desde o governo Lula, o governo já pagou de juros R$ 6
trilhões.É a maior transferência de renda da história do capitalismo
brasileiro. Quero ainda agradecer a Desenvolve SP e lembrar que o cartão BNDES nasceu dentro da ABIMAQ,
além de deixar claro que a criação do
PSI FINAME que também se deu por iniciativa da ABIMAQ foi a única política industrial que deu
certo. E agora estão querendo cobrar IOF, aumentar a taxa de juros. Não existe
nenhum lugar no mundo em que o financiamento de investimento para a indústria
de automação não seja subsidiado. Não existe país rico e desenvolvido sem uma
indústria de transformação desenvolvida e sem ter uma linha de crédito a longo
prazo. Muito obrigado, BNDES, porque sem vocês nós estaríamos mortos”.
Roberto
Luis Troster
Sócio da Troster & Associados
“O Brasil precisa de investimento produtivo e necessita aumentar o
potencial de investimento da economia. Com relação ao crédito, defendo a
discussão do papel dos bancos públicos que deveriam ser tratados como bancos
estatais comerciais. Na realidade,
deveria haver uma instituição federal, submetida a uma assembleia do
banco do estado, que são os bancos de fomento do estado, que poderia ser
executada por outras instituições, com mandato específico, estratégias,
políticas definidas e análise custo-benefício.Temos que analisar o cadastro
positivo, tributação, moeda remunerada e classificação de risco de queda, e
parar de ser o país das crises: É triste ver empresas quebrando por conta de má
gestão financeira e se não fizermos nada, a situação vai piorar. É aceitável
ter dívidas, desde que o retorno do investimento seja maior que o retorno da
dívida, o que não é o caso. Dever bem é bom para empresas, bancos e países.
Dever mal é que é o problema. Estamos devendo mal e precisamos consertar a
situação.
A prioridade para as empresas, hoje, é
sobreviver. Precisamos pensar em ações que diminuam as falências e as
moratórias. Em um segundo momento, devemos pensar em crescer. Nós temos tudo
para crescer”.
Palestra
– Desenvolvimento e Política Industrial
Luciano Coutinho, presidente do BNDES
“É necessário atenção e trabalho em
ajustes de curto prazo para endereçar outros ajustes estruturais de longo prazo
e pavimentar a retomada do crescimento. Entretanto, não podemos abandonar um
projeto de futuro, onde a indústria precisa ter um lugar estratégico para a
recuperação e a sustentação do crescimento do nosso país. É possível
perfeitamente ultrapassar as dificuldades. É necessário um milhão de esforços
em todos os planos para acelerar o processo.Não podemos perder de vista que a perspectiva
em relação à taxa de câmbio é muito mais favorável em matéria de
desenvolvimento da indústria, mas o processo inicial de ajustamento é difícil e
doloroso.
É possível restaurar a capacidade
brasileira de revitalizar as cadeias de valor e enfrentar a concorrência
externa. O ministro do MDIC, Armando Monteiro, tem se esforçado para colocar a
exportação como vetor do crescimento. A aceleração do crescimento aumentará a
demanda em energia, e deverá acelerar o investimento em geração, transmissão e distribuição
no processo. Por isso, apesar de reconhecer o momento de dificuldades por que
passa a economia brasileira, reconheço também que este momento pode ser de
abertura de uma janela de oportunidade especialmente em setores como o de
infraestrutura, energia, óleo e gás, como detentores de potenciais
significativos de crescimento e merecedores de investimentos.
Precisamos ainda repensar os limites
potenciais da cadeia de óleo e gás. O mercado interno poderá também contribuir
na medida em que o endividamento familiar e os comprometimentos dos níveis de
renda familiar sejam reduzidos. A recuperação dentro das cadeias de valor da
indústria brasileira não deve ser baseada em excesso de proteção ou de
proteções artificiais, mas, sim, de modo competitivo, com saltos em linhas de
produtividade, alicerçados em processos de inovação.
Quero ainda reiterar o compromisso da
instituição com o sistema ABIMAQ. Nosso compromisso é fazer tudo o que estiver
ao nosso alcance para ultrapassar o processo atual com o mínimo de desgaste
para o setor empresarial e que o Brasil e a indústria possam recuperar o
crescimento.”
Palestra
Magna – Produtividade e competitividade
Jorge Gerdau, presidente do Conselho
de Administração da Gerdau
“Juros, câmbio, carga tributária,
cumulatividade dos impostos, relações trabalhistas, custo da energia elétrica e
a falta de logística são os principais motivos das empresas brasileiras não
conseguirem competir no cenário internacional. Destacamos ainda a incapacidade
de gestão do setor público: Os ajustes atuais são tremendamente acanhados
porque não criamos a consciência de debater com profundidade e eficiência o que
é necessário para fazer o ajuste considerando tudo que existe, qual é o retorno
e o benefício.
O descontentamento com a carga tributária
é uma realidade, uma vez que pagamos quase 27%, mas temos 6% de déficit. O
sistema tributário do Brasil é absolutamente fora da realidade. Todos os países
da América Latina tem uma carga tributária de 20%.Temos que levar em conta
ainda que o nosso custo dos juros no processo produtivo é seis vezes maior que
o dos EUA. Temos no mínimo, de 8% a 12% sobre o faturamento dos juros
cumulativo, o que acaba tirando qualquer competitividade da indústria.
O swap que o Banco Central pratica é o
instrumento de matança da indústria de transformação. O movimento Coalizão
Indústria – Trabalho para a Competitividade e o Desenvolvimento, sob a
liderança da ABIMAQ, é um caminho que pode melhorar a situação do setor quanto
à competitividade sistêmica. A deficiência de governança é assustadora e é
preciso o fortalecimento da sociedade civil. “Se deixarmos o congresso e o
executivo soltos não vai mudar nada. A mudança está na nossa mão. A pressão da
sociedade é o único caminho para avançar, pressionar o processo político e conquistar
resultados”.
Encerramento
“Soluções técnicas existem para o
Brasil. O que falta é vontade política.”
“Existe um ditado que diz que não há
governo que não se movimente sobre pressão. É hora de aprendermos a fazer
pressão”, afirmou Carlos Pastoriza, no encerramento do congresso. O presidente
do Conselho de Administração da ABIMAQ destacou três ações políticas conduzidas
pela entidade:
1) Coalizão Indústria – Trabalho para
a Competitividade e o Desenvolvimento, em fase de realização de estudos com intuito
de sugerir ao governo soluções para o combate do tripé do mal, formado por
juros, tributos e câmbio;
2)Lançamento da Frente Parlamentar da
Indústria de Máquinas e Equipamentos. É a primeira vez, em quase 80 anos, que o
setor tem uma Frente Parlamentar organizada e oficializada no Congresso para
defender os interesses do segmento;
3)Movimento de rua, intitulado “Grito
de alerta em Defesa da Indústria e do Emprego”. O objetivo é mostrar para
sociedade, governo e as mídias o estado de desagregação em que se encontra a
indústria brasileira por conta dos ajustes no país.
“São nessas horas de caos que se abre
espaço para grandes reformas, que em situações normais o comodismo faz com que
tudo fique como está. Uma coisa que a ABIMAQ não está é acomodada. Vamos fazer
mais coisas nesse sentido, pois o efeito é muito grande”, concluiu.
Obrigada
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