quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O que pode fazer o país voltar a crescer?

Para tentar responder essa questão e propor alternativas para o desenvolvimento do País, a ABIMAQ realizou o  1º Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos, na sede da entidade, em São Paulo, no dia 16 de setembro

Com um cenário projetando uma queda do PIB da ordem de 3%, há expectativas que a indústria por meio do aumento de exportações de manufaturados e da recuperação de parte do market share no mercado interno possa cumprir esse papel.

Em crises anteriores, a história mostra que a indústria é a saída , uma vez que desde que surgiu na Inglaterra, tem sido fator decisivo nas sociedades modernas, gerando emprego, inovação e bem-estar social.

Com tema desafiador e multidisciplinar, a ideia da entidade ao realizar o Congresso  foi promover o debate e buscar soluções para suas associadas em particular e para a indústria de transformação em geral, tentando contribuir para o crescimento.

O PROBLEMA

“Os caminhos da reindustrialização e do Brasil potência estão ao nosso alcance. Temos uma série de grandes desafios que são motivo da nossa jornada de trabalho hoje. Vamos fazer um brainstorming promovendo um debate com alguns dos temas vitais para podermos trilhar este caminho. Do contrário, vamos chegar a um ponto de não retorno e trilharemos o triste caminho de voltar a ser um país colônia”. Com essas palavras, o presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, Carlos Pastoriza, abriu o 1º Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos - “O Mercado em Debate”.

Com a participação de autoridades governamentais, lideranças empresariais e setoriais, o evento discutiu temas como:

- A Reindustrialização do Brasil;
- A Indústria de Bens de Capital como Vetor de Crescimento;
- A Inserção do Brasil nas Cadeias Globais de Valor;
- Desenvolvimento e Política Industrial;
- Inovação: O Papel Estratégico do Estado;
- Financiamento: O Papel do Estado x Iniciativa Privada;
- Produtividade e Competitividade.

Em seu pronunciamento, Pastoriza afirmou que, apesar do momento difícil em que passa a economia e a indústria, o Brasil faz parte de um grupo seleto de países que tem uma indústria de transformação, produz e exporta bens de capital. “Porém, essa mesma indústria sofre com uma taxa de juros ‘pornográfica’ e um sistema tributário irracional, que beneficia a importação, o que tem provocado a desindustrialização”, explicou.

Pastoriza destacou que esse processo desastroso prejudicou o tecido industrial e fez com que o PIB e os empregos qualificados caíssem brutalmente. “Há três anos, o setor caiu 30%, o que significa que o país não está investindo e isso é grave”, afirmou o presidente. “Se quisermos ter soberania tecnológica, valor agregado e crescimento do PIB de modo sustentável, depende somente de nós”.

Palestra – A Reindustrialização do Brasil

ALDO REBELO, Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)

“Temos que  destacar a relevância da inovação e da reindustrialização para o país. A indústria é importante para a moderna sociedade em todo o mundo, pois cria as sociedades urbanas, a moderna classe média, a vida democrática e institucional e a sensação de bem-estar material e espiritual. O  desenvolvimento industrial determinou o processo ocorrido em países como Inglaterra, China e Estados Unidos, cujos Estados são as principais alavancas da pesquisa e inovação. O Brasil procura dispor de instrumentos para apoiar esses fatores, como a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), os fundos setoriais, os institutos, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), e as linhas de financiamento oferecidas pelo BNDES e Banco do Brasil. Com relação  ao ajuste fiscal,  é um mecanismo temporário para corrigir deformidades das atividades e de passagens incontornáveis. Em compensação, o governo tem tomado medidas para a retomada da economia, como a discussão da revalorização da agenda de ciência, tecnologia e inovação; reconstituição do orçamento do ministério, projeto destinando 25% do Fundo Social do Pré-Sal para ciência, pesquisa e inovação; e recuperação do Fundo do Petróleo como devolução ao sistema de ciência e pesquisa”.

Painéis

Durante o congresso, quatro painéis foram realizados, contando com a mediação do jornalista Augusto Nunes, colunista da Veja e apresentador  do programa Roda Viva da TV Cultura.
Painel I – A Indústria de Bens de Capital como Vetor do Crescimento
A necessidade de um programa de reindustrialização e a modernização do parque industrial brasileiro, o aumento de exportações de manufaturados visando à recuperação de parte do market share no mercado interno e os instrumentos para recuperação do mercado externo foram destaques do painel.

Amir Khair

Engenheiro e mestre em Finanças Públicas

“A questão central que deveria ser discutida são os juros, que corresponderam a 90% do déficit fiscal do Brasil no último ano. Aumentar imposto, no conjunto, não leva a nada. Não precisa ser especialista para saber que da inflação brasileira medida pelo IPCA, 80% dela não passa pela porta do Banco Central. O BC, com os 20%, aplica uma taxa de juros alta, fora da realidade internacional e com isso, atrai dólar especulativo e o câmbio fica fora de lugar. Quando o câmbio e os tributos são distorcidos, não há a possibilidade de obter inovação, produtividade e competitividade. Deixamos de aproveitar o extraordinário potencial que o Brasil tem, tanto com relação à agricultura, pecuária, diversificação e indústria, quanto ao consumo, que é o carro chefe do crescimento econômico”.

Carlos Augusto Gadelha

Secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)

“O sucesso da indústria é o nosso sucesso. O fracasso da indústria é o nosso fracasso. Estamos juntos para construir um horizonte de desenvolvimento, já que o primeiro setor que sofre com as expectativas em baixa é o setor de bens de capital.Precisamos  centralizar a indústria na estratégia nacional de desenvolvimento. Colocar uma pauta de investimentos e a pauta de exportação ser vista nesse contexto como primeiro disparador da geração de demanda efetiva para reanimar as expectativas é absolutamente central. Temos que construir juntos um programa de modernização do parque fabril brasileiro e de forte estímulo à produtividade da nossa indústria de bens de capital. É sair para frente e não recuar. Ainda dá para reagir e nós vamos reagir”. 

Paulo Rabello de Castro

Economista

“Na verdade, o câmbio isoladamente não colocará a taxa de juros no lugar correto e nem o sistema tributário: Não há reindustrialização alguma, mas, sim, desindustrialização acelerada. O país não tem plano, não consegue fazer um orçamento, possui uma imensa conta de juros, para a qual contribuiu com uma composição de dívida completamente equivocada. Precisamos agir junto às bancadas, ter plano, orçamento, senso, compromisso e um pingo de ética e honestidade para a administração deste país. Precisamos reagir antes que nosso coração pare de funcionar. E nesse aspecto devo chamar a atenção para a atuação da ABIMAQ na formação do pensamento nacional e na opinião empresarial e política.Sofremos uma depressão profunda e estamos necessitados de entidades como a ABIMAQ, que representem  a possibilidade de ressurreição deste país”.

Paulo Stark

Presidente da Siemens

“A indústria acredita e conta com boas pessoas capazes de salvar o Brasil . Quando analisamos a evolução do câmbio Dólar-Real vemos que a correlação do câmbio com a exportação de bens de capital não é tão direta e rápida, como ocorreu anteriormente, já que as condições de controle são diferentes. Nos últimos 12 anos, o Brasil cresceu pouquíssimo em produtividade,  porque o nosso parque fabril tem 17 anos de idade, contra parques industriais muito mais modernos de nossos competidores. De outro lado,  a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no Brasil, nos anos de 2003 a 2010, teve uma roda de crescimento que representou o mercado interno das indústrias, que está deixando de existir. Se não atuarmos na estabilização de um mercado interno e na criação de condições para a exportação e para o investimento na modernização das nossas indústrias, não será possível recuperar o parque industrial brasileiro”.

Painel II – A Inserção do Brasil nas Cadeias Globais de Valor

Há um consenso de que o aumento da integração da economia brasileira nos fluxos internacionais de comércio seria benéfica ao Brasil. Mas, como realizar tal inserção e colocar as empresas brasileiras em posição de competir como suppliers e end producers de bens de capital?

Abrão Miguel Árabe Neto

Secretário substituto de Comércio Exterior do MDIC

“A discussão com o setor privado é a melhor forma para encontrar os caminhos para enfrentar os desafios. O Brasil é a sétima economia do mundo, mas é o 25º exportador mundial de bens, com uma participação de aproximadamente 1,2% de exportações, ou seja, o tamanho das nossas exportações não corresponde à real dimensão da economia brasileira. Além disso, temos uma participação de valor adicionado estrangeiro que é inferior aos demais players internacionais. Esses dados mostram que há um espaço enorme para o crescimento do comércio exterior brasileiro e maior inserção do Brasil nas cadeias de valor”.

Vera Thorstensen

Professora e pesquisadora da Escola de Economia de São Paulo da FGV

“Não adianta pensar em cadeia se o país está completamente isolado dos acordos preferenciais do mundo. As transnacionais são as grandes responsáveis pela cadeia e o Brasil está fora dessas cadeias, que são as grandes molas de comércio internacional. Antes de se tratar de cadeias, é necessário pensar no modo como se deve montar um país preparado para trabalhar nas cadeias. Não adianta transformar a indústria em importadora. É o câmbio, que dificulta o estabelecimento de acordos. Só podemos pensar em cadeia quando conseguirmos baixar a estrutura tarifária absolutamente perversa. Nós queremos participar de acordos e cadeias e ter condições para fazer isso. É a abertura que vai fazer o governo se mexer com a pressão de vocês”.

Décio da Silva

Presidente do Conselho de Administração da WEG

“Cerca de um ano atrás, o governo informou que a indústria era prioritária e que desoneraria o setor, mas voltou a onerá-lo, prejudicando o empresário. Defendo a adoção de um câmbio justo, modernização do parque industrial e implantação de novos projetos voltados à eficiência energética. A WEG criou sua própria cadeia de valor em três fases: exportação, criando a sua rede de distribuidores; abertura de filiais, cumprindo o processo de internacionalização; e montagem das fábricas, criando produção. Precisamos conhecer os fornecedores e os mercados. Nossos insumos, equipamentos e pessoas têm que estar internacionalizados para usarmos a cadeia de valor de uma maneira mais igualitária. O Brasil precisa decidir que país quer ser. A indústria de fazer indústria é muito relevante até para a soberania do país”.

José Augusto de Castro

Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)

“Como vamos fazer uma integração entre cadeias globais de valor se compramos de longe e vendemos para perto? O país importa 85% de produtos manufaturados basicamente da China, Estados Unidos e União Europeia. Com relação às exportações, o Brasil vende 36% para a América do Sul e África e, para o restante do mundo, praticamente nada. Não existe uma política de integração de comércio exterior e ressalto a criação do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (REINTEGRA) e a recente diminuição deste benefício. Como teremos uma integração intercontinental se não temos acordo? Temos que definir se queremos ser efetivamente um país exportador de manufaturados ou se nós sonhamos acordados. O mundo está em processo de mudança e o Brasil não está adotando a mesma postura. As cadeias globais de valor são fundamentais, mas elas precisam existir”.

Painel III – Inovação: O Papel Estratégico do Estado

Apesar dos esforços feitos pelo Governo, por que o país não está melhorando a percepção da inovação pelos índices internacionais? Mudança cultural, ambiente econômico favorável, instrumentos de apoio, parcerias com centros de P&D e visão de futuro foram discutidos neste painel.

Luiz Fernandes

Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)

“O papel do Estado na inovação engloba três pilares: criar ambiente propício à inovação empresarial; compartilhar risco da inovação com empresas; e estruturar cadeias de inovação com instrumentos adequados. A subvenção econômica é um dos instrumentos mais nobres de apoio à inovação empresarial porque materializa monetariamente o compartilhamento do risco da empresa com o poder público. A construção que estamos fazendo para 2016 é dobrar os recursos de subvenção disponíveis. O Inova Empresa estruturou os editais mais recentes e organizou por setores a demanda do apoio à inovação, aumentando a qualidade do apoio público do financiamento. Precisamos  retomar a discussão sobre a ampliação das áreas de atendimento Inova Empresa, não atendidas antes, com um edital específico para bens de capital. Temos que pensar em soluções e iniciativas conjuntas. Acredito que estamos no mesmo lado”.

Maria Luisa Leal

Diretora de Desenvolvimento Tecnológico e de Inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)

“Precisamos entender o papel do Estado e do setor privado, discutir e fortalecer algumas questões de contribuição e de construção do futuro, identificar tecnologias e trabalhar para fomentar a indústria. Um panorama histórico da indústria brasileira revela quedas significativas em tempos de crise e de juros elevados , enquanto países como os Estados Unidos e a Alemanha estão avançando há anos em estratégias para a indústria. Agora é que o Brasil está  discutindo as bases para o avanço da indústria. A questão é que para estar em um conceito de indústria 4.0, integrar com o mercado, fornecedores e análise de banco de dados, é necessária uma infraestrutura para isso. Não se avança na indústria do futuro sem integração entre o setor privado e o governo. Um dos papeis do Estado em momento de crise é estruturar bases de inteligência para prospecção tecnológica e, para que possamos retornar o investimento e estar preparados para deslanchar no desenvolvimento industrial que tanto precisamos”.

Rodrigo da Rocha Loures

Presidente do Conselho de Administração da Nutrimental

“Historicamente, há exemplo, em todos os países bem sucedidos, que o Estado contribui no papel estratégico, proporcionando um ambiente propício ao investimento. No caso específico do Brasil, estamos nos atrasando. O Brasil tem gente capacitada, bons acadêmicos, bons gestores públicos. Agora, quando nos colocamos em jogo, tudo funciona mal. O setor público, as políticas públicas não são eficazes, nossas instituições são disfuncionais. O investimento não é propício para o empreendedor e perdemos posições no processo competitivo.Temos que começar a mudar de concepção nesse paradigma e ter consciência de que temos que trabalhar bem a macroeconomia e ter condições de competitividade em nível de câmbio. Porque vivemos em uma economia de mercado e quem entende disso são os empreendedores. Temos que ser os protagonistas deste processo. Esta é a grande mudança que tem que acontecer. É a forma  como se faz planejamento e se organizam as instituições. São procedimentos efetivos, de avaliação de políticas públicas. Existe carência na avaliação de todos os processos. Quando todos se interessarem, pensaremos juntamente: como nós vamos reinventar o Brasil?”

Gilberto Poleto

Empresário e proprietário da Bralyx

“As empresas precisam sobreviver. Precisam se abrir para a exportação e chegar a outros países. Mas sem inovação, isso não é possível. E para inovar, é preciso financiamento a longo prazo. Nos caminhos trilhados pela Bralyx a inovação esteve sempre presente em todos os processos de seu crescimento. A empresa partiu da percepção da necessidade de uma máquina de fabricar salgados. A Bralyx importou da Itália uma máquina que fazia algo parecido, e a adaptou para a produção de coxinhas. Dentro dessa linha nós buscamos a primeira inovação, identificamos que havia um grande mercado no Brasil de pequenas empresas querendo um produto que coubesse na sua cozinha. Então, criamos uma máquina de mesa, que hoje é padrão mundial e a trouxemos para o mercado brasileiro, fazendo coxinhas e pão de queijo. Além disso, investimos em produtos para atender o público internacional e começamos a exportar. Cada produto inédito exigiu uma inovação. Com isso, conseguimos estar presentes em cinquenta países do mundo. A terceira inovação ficou por conta das certificações, sendo essencial para o sucesso identificar as necessidades do mercado e desenvolver novas ideias para atendê-las”.

Painel IV – Financiamento: O Papel do Estado X Iniciativa Privada

Independente da forte atuação do BNDES, a economia do país apresenta taxas de investimento muito abaixo do ideal. O painel discutiu a necessidade de um sistema de financiamento de longo termo, com prazos e custos compatíveis, capazes de recuperar a vitalidade do setor e tornar a indústria internacionalmente competitiva.

Milton Luiz de Melo Santos

Diretor-presidente da Desenvolve SP

“Um quarto dos recursos alocados é para produção de longo prazo. Nós não temos aqui uma proporção de recursos que seja adequada para o financiamento produtivo. Enquanto tivermos um sistema em que a predominância da taxa de juros é indicativa para o agente econômico aplicar o seu recurso, dificilmente teremos um financiamento de longo prazo. É preciso, de um lado, que a taxa de juros caia substancialmente. De outro lado, é necessário ter um sistema tributário mais apropriado”.

Maurício Borges Lemos

Diretor do BNDES

“Além de falar sobre processo de financiamento feito pelo banco, bem como o fluxo de operações das linhas de financiamento, como o FINAME, gostaríamos de explicar o crédito direcionado e falar sobre o programa Refin, que beneficia microempresas de transporte. O Tesouro Nacional está na iminência de soltar uma carta para o Refin não equalizado, que vai valer para todo o sistema de bens de capital, caminhões, PMGs empresas. Mas gostaria de questionar sobre a crise política da década de 30, período em que o PIB brasileiro cresceu 50%. Como o Brasil cresceu 50% em um período tão difícil? Paradoxalmente, o país não podia importar nada na época, e começou a criar a sua própria indústria fazendo vários acordos  com outros países. Lembrando um pouco uma análise histórica da condição econômica e fiscal do Brasil podemos pensar nas saídas que ao país deve adotar: Nós temos muita ociosidade em muitos setores e lugares, mas precisamos ter estratégias, criar agendas, estabelecer pactos e negócios prioritários, e tornar o país competitivo”.

Luiz Aubert Neto

Vice-presidente da ABIMAQ

“Se não existisse o BNDES, nós hoje não estaríamos aqui. Precisamos lembrar aqui a importância fundamental do BNDES para as empresas brasileiras, sendo que uma das empresas que temos mais  orgulho é a Embraer, um dos exemplos de sucesso atribuído aos recursos disponibilizados pelo banco.

Não podemos esquecer que o Brasil tem a mais alta taxa de juros do mundo e que isso é um câncer  para o país: Por dia, o governo está pagando R$ 1,2 bilhões de juros. O volume brasileiro de pagamento de juros é um absurdo. Nós todos aqui pagaremos por meio de linhas de capital de giro, cheque especial, cartão de crédito, R$ 600 bilhões de juros por ano, totalizando R$ 1 trilhão de reais. Quem tiver a curiosidade de entrar no site do Banco Central vai verificar que desde o governo Lula, o governo já pagou de juros R$ 6 trilhões.É a maior transferência de renda da história do capitalismo brasileiro. Quero ainda agradecer a Desenvolve SP e lembrar  que o cartão BNDES nasceu dentro da ABIMAQ, além de deixar claro que a  criação do PSI FINAME que também se deu por iniciativa da ABIMAQ  foi a única política industrial que deu certo. E agora estão querendo cobrar IOF, aumentar a taxa de juros. Não existe nenhum lugar no mundo em que o financiamento de investimento para a indústria de automação não seja subsidiado. Não existe país rico e desenvolvido sem uma indústria de transformação desenvolvida e sem ter uma linha de crédito a longo prazo. Muito obrigado, BNDES, porque sem vocês nós estaríamos mortos”.

Roberto Luis Troster

Sócio da Troster & Associados

“O Brasil precisa de  investimento produtivo e necessita aumentar o potencial de investimento da economia. Com relação ao crédito, defendo a discussão do papel dos bancos públicos que deveriam ser tratados como bancos estatais comerciais. Na realidade,  deveria haver uma instituição federal, submetida a uma assembleia do banco do estado, que são os bancos de fomento do estado, que poderia ser executada por outras instituições, com mandato específico, estratégias, políticas definidas e análise custo-benefício.Temos que analisar o cadastro positivo, tributação, moeda remunerada e classificação de risco de queda, e parar de ser o país das crises: É triste ver empresas quebrando por conta de má gestão financeira e se não fizermos nada, a situação vai piorar. É aceitável ter dívidas, desde que o retorno do investimento seja maior que o retorno da dívida, o que não é o caso. Dever bem é bom para empresas, bancos e países. Dever mal é que é o problema. Estamos devendo mal e precisamos consertar a situação.

A prioridade para as empresas, hoje, é sobreviver. Precisamos pensar em ações que diminuam as falências e as moratórias. Em um segundo momento, devemos pensar em crescer. Nós temos tudo para crescer”.

Palestra – Desenvolvimento e Política Industrial

Luciano Coutinho, presidente do BNDES

“É necessário atenção e trabalho em ajustes de curto prazo para endereçar outros ajustes estruturais de longo prazo e pavimentar a retomada do crescimento. Entretanto, não podemos abandonar um projeto de futuro, onde a indústria precisa ter um lugar estratégico para a recuperação e a sustentação do crescimento do nosso país. É possível perfeitamente ultrapassar as dificuldades. É necessário um milhão de esforços em todos os planos para acelerar o processo.Não podemos perder de vista que a perspectiva em relação à taxa de câmbio é muito mais favorável em matéria de desenvolvimento da indústria, mas o processo inicial de ajustamento é difícil e doloroso.

É possível restaurar a capacidade brasileira de revitalizar as cadeias de valor e enfrentar a concorrência externa. O ministro do MDIC, Armando Monteiro, tem se esforçado para colocar a exportação como vetor do crescimento. A aceleração do crescimento aumentará a demanda em energia, e deverá acelerar o investimento em geração, transmissão e distribuição no processo. Por isso, apesar de reconhecer o momento de dificuldades por que passa a economia brasileira, reconheço também que este momento pode ser de abertura de uma janela de oportunidade especialmente em setores como o de infraestrutura, energia, óleo e gás, como detentores de potenciais significativos de crescimento e merecedores de investimentos.

Precisamos ainda repensar os limites potenciais da cadeia de óleo e gás. O mercado interno poderá também contribuir na medida em que o endividamento familiar e os comprometimentos dos níveis de renda familiar sejam reduzidos. A recuperação dentro das cadeias de valor da indústria brasileira não deve ser baseada em excesso de proteção ou de proteções artificiais, mas, sim, de modo competitivo, com saltos em linhas de produtividade, alicerçados em processos de inovação.

Quero ainda reiterar o compromisso da instituição com o sistema ABIMAQ. Nosso compromisso é fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ultrapassar o processo atual com o mínimo de desgaste para o setor empresarial e que o Brasil e a indústria possam recuperar o crescimento.”

Palestra Magna – Produtividade e competitividade

Jorge Gerdau, presidente do Conselho de Administração da Gerdau

“Juros, câmbio, carga tributária, cumulatividade dos impostos, relações trabalhistas, custo da energia elétrica e a falta de logística são os principais motivos das empresas brasileiras não conseguirem competir no cenário internacional. Destacamos ainda a incapacidade de gestão do setor público: Os ajustes atuais são tremendamente acanhados porque não criamos a consciência de debater com profundidade e eficiência o que é necessário para fazer o ajuste considerando tudo que existe, qual é o retorno e o benefício.

O descontentamento com a carga tributária é uma realidade, uma vez que pagamos quase 27%, mas temos 6% de déficit. O sistema tributário do Brasil é absolutamente fora da realidade. Todos os países da América Latina tem uma carga tributária de 20%.Temos que levar em conta ainda que o nosso custo dos juros no processo produtivo é seis vezes maior que o dos EUA. Temos no mínimo, de 8% a 12% sobre o faturamento dos juros cumulativo, o que acaba tirando qualquer competitividade da indústria.

O swap que o Banco Central pratica é o instrumento de matança da indústria de transformação. O movimento Coalizão Indústria – Trabalho para a Competitividade e o Desenvolvimento, sob a liderança da ABIMAQ, é um caminho que pode melhorar a situação do setor quanto à competitividade sistêmica. A deficiência de governança é assustadora e é preciso o fortalecimento da sociedade civil. “Se deixarmos o congresso e o executivo soltos não vai mudar nada. A mudança está na nossa mão. A pressão da sociedade é o único caminho para avançar, pressionar o processo político e conquistar resultados”.

Encerramento

“Soluções técnicas existem para o Brasil. O que falta é vontade política.”
“Existe um ditado que diz que não há governo que não se movimente sobre pressão. É hora de aprendermos a fazer pressão”, afirmou Carlos Pastoriza, no encerramento do congresso. O presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ destacou três ações políticas conduzidas pela entidade:

1) Coalizão Indústria – Trabalho para a Competitividade e o Desenvolvimento, em fase de realização de estudos com intuito de sugerir ao governo soluções para o combate do tripé do mal, formado por juros, tributos e câmbio;

2)Lançamento da Frente Parlamentar da Indústria de Máquinas e Equipamentos. É a primeira vez, em quase 80 anos, que o setor tem uma Frente Parlamentar organizada e oficializada no Congresso para defender os interesses do segmento;

3)Movimento de rua, intitulado “Grito de alerta em Defesa da Indústria e do Emprego”. O objetivo é mostrar para sociedade, governo e as mídias o estado de desagregação em que se encontra a indústria brasileira por conta dos ajustes no país.

“São nessas horas de caos que se abre espaço para grandes reformas, que em situações normais o comodismo faz com que tudo fique como está. Uma coisa que a ABIMAQ não está é acomodada. Vamos fazer mais coisas nesse sentido, pois o efeito é muito grande”, concluiu. 

Obrigada

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