Novas formas de consumo do destilado típico brasileiro impulsionam sua experimentação e valorização
Uma combinação perfeita de fatores climáticos, topográficos e
técnicos
fazem com que a cachaça de alambique da Paraíba, no Nordeste
brasileiro, tenha um diferencial em relação às demais produzidas no
país. O segredo, segundo especialistas da bebida, é que o clima e o solo
da região permitem que a cana absorva nutrientes que dão
à branquinha um sabor diferente, tipicamente local, como acontece no terroir nos vinhos.
“A
fermentação é muito importante para a composição do sabor. Na Paraíba, a
maioria dos engenhos adota a fermentação natural, em que os
microrganismos da própria
cana-de-açúcar são responsáveis pelo processo. Chamados de leveduras
selvagens, eles carregam em si o DNA da região produtora e dão gosto à
cachaça. As bebidas produzidas aqui costumam ter aroma e sabor frutado”,
explica Mucio Fernandes, presidente do Instituto
Brasileiro da Cachaça – IBRAC e diretor do Engenho São Paulo, o maior
produtor de cachaça de alambique do Brasil.
Mas
não é só pelo sabor que as cachaças da Paraíba se distinguem. Hábitos
de consumo adotados na região dão versatilidade à bebida e ampliam as
possibilidades de
combinações. “Costumes como apreciar a cachaça gelada ganharam força
por aqui nos últimos 10 anos. Quando resfriada, ela fica ainda mais
saborosa, porque a presença do álcool é menos perceptível ao paladar,
evidenciando as características da cachaça”, diz
Mucio.
No
solo nordestino, ela ganha toques regionais e frutas como o caju, a
seriguela ou a pitanga são incorporadas a drinques e até mesmo
consumidas como
acompanhamento. “A Paraíba e Pernambuco compartilham um ritual
semelhante ao do consumo de tequila, só que com o caju substituindo o
limão, inclusive é comum os bares servirem a cachaça com pedaços da
fruta à parte”, comenta Alexandre Macário,
gerente da unidade de negócios Norte/Nordeste da Owens Illinois, fornecedora das garrafas de vidro
do Engenho São Paulo.
Com tanta personalidade, o destilado paraibano não merecia passar despercebido por outras regiões do país.
Para
promover a bebida, foi lançada em 17 de maio a Carta da Cachaça, um
livro que traz informações sobre as variedades produzidas na Paraíba e
como harmonizá-las
na gastronomia. “A ideia é divulgar o material em bares, restaurantes e
hotéis em todo o país. O livro também traz dados sobre o engenho
produtor da cachaça escolhida”, explica Alexandre.
Primeira impressão
Para
cair no gosto do consumidor, os engenhos da Paraíba têm feito a lição
de casa e investido não só no sabor, mas também na apresentação do
produto
e diferenciação. “Uma cachaça premium precisa expressar na embalagem a
mesma qualidade da bebida envasada e transmitir ao consumidor todo
cuidado e atenção aos detalhes que o produtor teve durante o processo
inteiro, da seleção da cana, colheita até destilação.
Por isso, a escolha da garrafa certa, é fundamental”, diz Alexandre.
A
teoria foi comprovada nos resultados de vendas do Engenho São Paulo. No
início de 2012, a empresa decidiu lançar uma versão menor da cachaça
São Paulo
Cristal e contou com a O-I para elaborar uma garrafa exclusiva de 355
ml para o produto. “Lançamos a ‘gorduchinha’ no começo do ano e, no
final do segundo semestre, percebemos que as vendas do produto subiram
mais de 140%, apenas com a mudança da embalagem”,
conta Mucio Fernandes.
Mirando Alto
Com
a divulgação da cachaça em outras regiões, os produtores da Paraíba
preveem aumentar a produção da bebida nos próximos anos. O estado hoje é
o segundo
maior fabricante de cachaça de alambique do país, atrás apenas de Minas
Gerais. Produz cerca de 15 milhões de litros por ano e espera atingir
os 20 milhões até 2020.
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