sábado, 29 de março de 2014

Fim das ações coletivas e menor prazo de arrependimento melhoram CDC

Para presidente do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP, são positivos os dois pontos apresentados no documento final do relator da atualização do Código do Consumidor

A retirada do tema "ações coletivas" do relatório de atualização do Código de Defesa do Consumidor (CDC - Lei 8.078/1990) foi uma decisão acertada e trará maior segurança para os comerciantes. A avaliação é do presidente do Conselho Superior de Direito da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Ives Gandra Martins. A discussão em pauta estabelecia que, para um conjunto similar de reclamações de consumidores em busca do mesmo direito, a sanção seria aplicada igualmente. Esse item foi excluído do documento final do relator, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), apresentado na Comissão Temporária de Modernização do CDC na última quarta-feira (19).

Para Gandra, se a regra das ações coletivas fosse mantida, o comerciante seria prejudicado. "A ação coletiva cria uma ditadura do consumo sobre a produção. Se fosse aprovada, iria trazer uma intranquilidade enorme. Uma empresa poderia ter toda sua posição paralisada se fosse concedida uma liminar em uma ação que interessou a dois, três ou quatro consumidores e que conseguiram dar característica de coletivo", explica.

O texto apresentado pelo relator também trouxe outro ponto positivo na visão de Ives Gandra. Trata-se da redução de 14 para sete dias o prazo de arrependimento do consumidor do comércio eletrônico. A proposta sugere que, caso o consumidor desista do produto adquirido em uma loja virtual, terá até sete dias para recorrer. Para o presidente do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP, a medida é mais do que justa. "É uma medida muito boa porque sete dias depois da compra já está definitivamente configurada a venda, sem que haja riscos para o comerciante. É uma proposta excelente e justa".

Caso a proposta dos 14 dias de arrependimento fosse mantida, o comerciante seria mais uma vez prejudicado, avalia Gandra. "Traz intranquilidade para o comerciante, até para o nível de recolhimento de tributos, como o ICMS". Isso porque, de acordo com ele, já existe a agenda de recolhimento dos tributos. Dessa maneira, os 14 dias poderiam ultrapassar a data de pagamento tributário, atrapalhando a sistemática financeira da empresa. Gandra ainda reforça que o consumidor não sai lesado com a medida. "O consumidor compra um produto e tem um prazo mais do que razoável para dizer que não era o que esperava. O consumidor não é prejudicado", afirma.

O projeto para atualizar o CDC ainda sugere ampliar o poder de atuação dos Procons, permitindo que a autoridade aplique sanções aos fornecedores, na tentativa de agilizar os processos judiciais. Para Ives Gandra, no entanto, essa medida não seria a mais adequada. "Se a proposta for aprovada, a meu ver, será inconstitucional porque tira o direito de defesa da empresa, que é um direito fundamental".  Além disso, Gandra aponta uma situação de risco nesse ponto. "Isso é realmente perigoso porque o Procon é um órgão de defesa do consumidor. É como se tivesse um juiz que fosse o advogado da parte e, ao mesmo tempo, o aplicador da decisão. Ele defenderia o consumidor e aplicaria as sanções", explica.

O relatório final elaborado pelo relator Ricardo Ferraço deverá ser votado na próxima quarta-feira (26). Para compor o projeto, os senadores estudaram os projetos de lei 281, 282 e 283 de 2012.

Sobre a FecomercioSP

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) é a principal entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços. Responsável por administrar, no Estado, o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), representa um segmento da economia que mobiliza mais de 1,8 milhão de atividades empresariais de todos os portes e congrega 154 sindicatos patronais que respondem por 11% do PIB paulista - cerca de 4% do PIB brasileiro -, gerando em torno de cinco milhões de empregos.

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