Escassez de água, falta de saneamento básico e restrição de acesso à água tratada são condições favoráveis à disseminação de doenças tropicais como diarreia, esquistossomose e tracoma – doença que pode levar à perda de visão. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, mais de 2,2 milhões de pessoas em 53 países sofrem de cegueira, sendo que em pelo menos 1,2 milhão a perda da visão é resultado do tracoma. De acordo com o oftalmologista Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo, trata-se de uma forma de conjuntivite purulenta causada pela bactéria chlamydia trachomatis.
“Como a maioria das pessoas contaminadas não enfrenta dificuldade apenas de acesso a boas condições de higiene, mas também a bons oftalmologistas que possam fazer o diagnóstico precoce e tratar a doença a tempo, muitas vão perdendo a visão até ficarem cegas. Há, inclusive, quem acredite se tratar de uma herança genética ou de um simples fato da vida. Mas trata-se de uma situação alarmante e que pode se agravar em face da estiagem que se anuncia”, diz o médico.
Neves explica que o tracoma é uma doença bastante contagiosa. “As crianças são as mais atingidas, passando de uma para outra, bem como para toda sua família. Por esse motivo, inclusive, o Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo costuma tratar toda a sala de aula e a família do paciente assim que um caso de tracoma é diagnosticado. Estatísticas lançadas em 2011 revelam que, de 68 mil pessoas examinadas, 2,6% receberam diagnóstico da doença (1.755 pessoas, a maioria crianças com menos de 10 anos). Como o doente não fica cego imediatamente, é um mal que pode começar na infância e provocar a cegueira somente na fase adulta. Isto se deve a repetidas infecções não tratadas ou mal diagnosticadas”.
O tratamento do tracoma envolve antibióticos via oral, uso de tetraciclina e, em alguns casos, correção cirúrgica dos cílios que se voltam para dentro dos olhos, arranhando o globo ocular. Mas uma das medidas mais urgentes é a mobilização para melhorias de condições de higiene e sanitárias, aumentando o acesso à água tratada. “A simples mudança de hábito, ensinando as crianças a lavarem as mãos e o rosto duas ou mais vezes ao dia, contribui no controle da doença dentro dessas comunidades de risco. Trata-se de uma doença muito mais prevalente em áreas rurais. Mas quem vive em aglomerações nas grandes cidades, onde o acesso à água potável vem sendo cada vez mais restrito, também corre perigo”, alerta o oftalmologista.
Fonte: Dr. Renato Neves, cirurgião-oftalmologista, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos(ECHO), em São Paulo (www.eyecare.com.br) e autor do livro “Seus Olhos”, lançado pela Editora CLA.
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