Tudo começou em um sábado ensolarado. A ideia era simples: pegar o carro, colocar a família dentro e dirigir até a cidade vizinha para comer aquela famosa galinha caipira. Só que, como toda boa aventura, a nossa começou mal planejada. O carro, um veterano de guerra com mais de vinte anos de estrada, já dava sinais de que não queria sair da garagem.
— Vai tranquilo — disse meu tio, batendo no capô como se fosse um cavalo. — Esse carro nunca me deixou na mão.
Mal sabia ele que o carro estava só esperando a chance certa de se vingar.
Entramos todos: eu no banco de trás, minha prima com a lancheira térmica no colo, e minha avó rezando o terço como se já previsse o desastre. A viagem começou animada, rádio no último volume, todo mundo cantando. Até que, no meio da estrada, o carro começou a tossir.
— Que barulho é esse? — perguntou minha prima, preocupada.
— Isso é música para os meus ouvidos — respondeu meu tio, tentando parecer confiante.
Dois minutos depois, o carro morreu de vez. Silêncio total. O ponteiro da gasolina estava enterrado no vermelho, quase chorando.
— Ah não! — gritou minha avó. — Eu sabia! Esse carro bebe mais do que seu avô no São João!
— Relaxa, é só falta de combustível. A gente empurra até o posto — sugeri otimista.
Olhei em volta: só havia mato, uma estrada deserta e, ao longe, uma vaca nos encarando com cara de poucos amigos. Posto? Nem sombra.
Meu primo, o “atleta” da família, decidiu ir andando até achar gasolina. Saiu cheio de coragem, mas voltou em dez minutos:
— Não achei nada, só a vaca. E ela me seguiu até aqui. Acho que está rindo de mim.
Decidimos ligar para o seguro. A atendente foi simpática, mas logo perguntou o modelo do carro. Quando meu tio respondeu, ouviu-se um silêncio constrangedor do outro lado da linha.
— Senhor… esse carro ainda roda?
— Roda sim, senhora! Quer dizer… rodava.
Sem ajuda do seguro, só nos restava esperar algum conhecido. Depois de quase duas horas, um amigo chegou com um galão de gasolina. Parecia o salvador da pátria. Jogamos o combustível no tanque, o carro ligou, e comemoramos como se fosse gol do Brasil.
Mas a felicidade durou pouco. O carro começou a chiar, depois a tossir, até soltar uma fumaça suspeita.
— Isso é normal? — perguntei.
— Claro! — respondeu meu tio, abrindo o vidro para não morrer intoxicado. — Ele está só esquentando a garganta.
De repente, puff, o carro parou de novo. Foi aí que entrou em cena o mecânico. Mas não qualquer mecânico. Ele chegou de bicicleta, com a caixa de ferramentas amarrada no bagageiro. Cena de filme.
— Boa tarde! — disse ele sorridente, como se não estivéssemos à beira de um colapso. — Vamos ver esse doente aí.
Depois de uns minutos mexendo, amarrando peças com arame e usando fita isolante como se fosse ouro, ele decretou:
— Pronto, está resolvido. Mas recomendo duas coisas: não corram e rezem bastante.
Voltamos para a estrada em silêncio, cada um fazendo sua parte: minha avó rezava, meu primo soprava o motor para não esquentar, e eu segurava firme a lancheira, porque, no fim das contas, só o frango assado parecia confiável naquela viagem.
Chegamos em casa tarde da noite, cansados, cheirando a fumaça e rindo de tudo. A viagem não teve galinha caipira, nem passeio turístico, mas ganhou o título de “A viagem mais engraçada e desastrosa da família”.
E a lição ficou: na próxima, o carro só sai da garagem se antes fizer uma parada obrigatória no posto de gasolina.
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