sábado, 1 de fevereiro de 2014

A luta dos pediatras brasileiros contra a obesidade infantil

A obesidade atinge todas as faixas etárias e é considerada hoje pela comunidade médica uma epidemia mundial. De olho na alarmante situação verificada também no Brasil, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), por meio de seu Departamento de Saúde Escolar, tem atuado subsidiando o pediatra nas diversas demandas sobre saúde escolar.

“Estamos trabalhando na inserção do profissional da educação no debate sobre saúde escolar conosco, bem como na atualização profissional dos pediatras”, revela o dr. Fausto Flor Carvalho, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Um dos objetivos é revertem os diversos fatores que têm levado à essa situação.

“Diante da maior oferta de alimentos industrializados, ricos em calorias e com pouco equilíbrio nutricional, precisamos promover uma conscientização para fatores como a redução das atividades físicas na infância devido a mudanças sociais, como urbanização, violência e trânsito, além do muitas vezes nocivo papel do marketing nas mídias, com propagandas que atraem especificamente o público infantil a produtos que deveriam ser evitados, como os doces, refrigerantes e alimentos ricos em gorduras, entre outros.”

Para o dr. Rubens Feferbaum, vice-presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), a prevenção da obesidade deve começar  na gestação  e seguir nos primeiros 2 anos de vida da criança: são os mil dias (270 da gestação + 730 dos 2 primeiros anos de vida) que constituem uma verdadeira janela de oportunidades na prevenção dos distúrbios nutricionais.

Esses cuidados devem iniciar durante a gestação e no acompanhamento pré-natal, para que as mães tenham uma nutrição adequada, evitando a restrição do crescimento do feto intra útero e também para que a gestante não tenha excessivo ganho de peso. Durante este período e após o nascimento, a mãe deve receber orientações corretas sobre o aleitamento materno de preferência com um pediatra”.

Outro momento que merece atenção, segundo o especialista, é a partir da oferta de alimentação complementar à criança. “O pediatra tem aí a oportunidade de estabelecer um bom comportamento na alimentação, para que não ocorra ganho de peso excessivo; a prevenção é fundamental: crianças obesas tendem a se tornar adultos obesos.”

Para o dr. Feferbaum, o pediatra é o profissional central na prevenção e tratamento da criança obesa, bem como o elo de ligação no caso de necessidade de encaminhamento para outros profissionais.

“Pode haver a indicação de consulta a um nutricionista e também a psicóloga, pois uma alimentação inadequada pode estar relacionada à ansiedade da criança e da família. Mesmo nestas situações, o pediatra deve continuar acompanhando o paciente, para monitorar o crescimento e o eventual surgimento de doenças relacionadas à obesidade, como a hipertensão ou o diabetes tipo 2, por exemplo.”



Vida escolar e saúde pública

Na opinião do dr. Fausto Flor Carvalho, além do consultório médico, outros aspectos da vida da criança estão diretamente relacionados à vida saudável.
“A escola é palco importante da questão obesidade, por meio de atividades educativas para crianças e familiares e trabalhos ligados à alimentação. O desenvolvimento de uma horta comunitária, por exemplo, oferece subsídios para várias disciplinas de ensino. Além disso, é importante que haja uma abordagem à questão da aceitação do aluno obeso, evitando bullying.”



Obesidade no Brasil

De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 30% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos de idade apresentam excesso de peso. O mesmo problema acomete cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos, além de 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos. Com a devida orientação do pediatra sobre alimentação e vida saudável, é possível mudar esse quadro.


A POF tem revelado um aumento de peso significativo nas crianças e adolescentes. Em 1974/1975, 10,9% dos meninos entre 5 a 9 anos de idade estavam com o peso acima da faixa considerada adequada pela Organização Mundial da Saúde (OMS); em 1989, eram 15%; o índice dobrou em 2008/2009 para 34,8%. Um padrão semelhante afetou as meninas nesse período que, de 8,6% na década de 70, foram para 11,9% no final dos anos 80, e chegaram aos 32% em 2008/2009. O aumento de peso em adolescentes de 10 a 19 anos também foi contínuo: de 1974/1975 a 2008/2009, o sobrepeso no sexo masculino foi de 3,7% para 21,7%, e no feminino de 7,6% para 19%.

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