domingo, 19 de abril de 2015

Coçar os olhos com frequência pode favorecer o astigmatismo

Imperfeição é comum e incomoda, mas tem tratamento

O astigmatismo é uma condição muito comum, que pode estar presente ao mesmo tempo que alguns erros de refração, como a miopia e o astigmatismo. O que muita gente não sabe é que o problema pode surgir desde a infância, principalmente em crianças que coçam vigorosamente os olhos – geralmente, resultado de alguma alergia preexistente. Nesses casos, é importante que os pais perguntem à criança se ela também sente dificuldade para enxergar, com visão borrada ou distorcida, e se tem dores de cabeça – procurando um médico oftalmologista o quanto antes para diagnosticar e tratar o problema.

“O astigmatismo é uma imperfeição no formato da curvatura da córnea, que é a lente abaulada e transparente que protege a íris (parte colorida do olho), a pupila, e ainda permite a entrada de luz para a formação das imagens. Enquanto uma córnea normal é arredondada por igual, permitindo focar todos os raios de luz na retina (ao fundo do olho) e formar imagens nítidas, uma córnea imperfeita não deixará a luz entrar homogeneamente, resultando em distorções e borrões na imagem final. No caso das crianças e adolescentes que coçam demais os olhos, impondo força nas pálpebras, a córnea pode vir a sofrer alterações no formato. Por isso é fundamental a supervisão de um adulto que identifique o risco e faça todo o possível para interromper essa prática”, diz o oftalmologista Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo.

Neves explica que, geralmente, o astigmatismo é hereditário e costuma estar presente nos casos de miopia (dificuldade para enxergar ao longe) e hipermetropia (dificuldade para enxergar de perto). Mas também é muito comum surgir logo após um acidente ou uma bolada forte nos olhos. Em casos graves de pacientes que sofrem de dermatite, rinite, asma brônquica e febre do feno (reação alérgica ao pólen das plantas), a alteração no formato da córnea pode resultar em ceratocone – com baixa acentuada da acuidade visual.

“O tratamento do astigmatismo consiste, primeiramente, em detectar que parte da curvatura da córnea está causando problemas de visão e seguir com um tratamento personalizado. Isso inclui desde o uso de lentes corretivas até cirurgia refrativa. No caso das lentes, podem ser prescritos óculos que vão promover uma compensação na imagem e também podem corrigir miopia e hipermetropia. Esse tratamento é indicado principalmente para crianças que ainda não têm maturidade suficiente para manusear lentes de contato. Quanto às lentes, hoje existe grande variedade para corrigir o problema: rígidas, gelatinosas, de uso prolongado, descartáveis, permeáveis e bifocais. Vale a pena conhecer os prós e contras antes de fazer uma escolha. Mas o tratamento que corrige mesmo o formato da córnea é a cirurgia refrativa a laser”, diz o especialista.

De acordo com o médico, o uso do laser Excimer, que é composto dos gases argônio e fluoreto, permite esculpir a curvatura da córnea, eliminando o problema. “Ao programar a cirurgia por computador, um feixe de luz ultravioleta (invisível e sem calor) retira camadas de tecidos com muita precisão. Para se ter uma ideia, esse laser pode esculpir um fio de cabelo mantendo intactas a área ao redor. A partir do momento em que o paciente volta a ter uma córnea abaulada por igual, sua visão volta a ficar nítida”.

Quanto ao ceratocone, que pode ser confundido com um grau elevado de astigmatismo, a técnica crosslinking (reticulação do colágeno corneano) vem apresentando importantes resultados na estabilização da doença. “O uso da luz ultravioleta, associado a um agente fotossensibilizante (riboflavina), é determinante para a indução da reticulação do colágeno corneano, técnica capaz de enrijecer a córnea, promovendo um tratamento mais conservador do ceratocone. Os resultados costumam ser observados num intervalo de 90 dias. Trata-se de um procedimento efetivo e de baixo custo, se comparado ao recurso cirúrgico – necessário em casos avançados. O procedimento não só endurece a parte anterior da córnea e estabiliza o ceratocone, como em alguns casos proporciona melhor visão”, diz Neves.
Mais informações:
Prof. Dr. Renato Augusto Neves, médico oftalmologista, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo, e autor do livro “Seus Olhos”
(Editora CLA). www.eyecare.com.br

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